Monday, August 14, 2006

Pernas


eu gosto das minhas pernas. quando peço, elas me levam para onde eu quero; e quando quero, me trazem de volta. nesse vai-e-vem do cotidiano, elas me acompanham. passo a passo chego com destinos certos ou errantes. no pensamento de algumas horas, vagueio pela capacidade das minhas pernas. os músculos, os ossos, as veias e nervos um complexo biológico onde se configura um espaço de força e tenacidade. a turgidez das fibras e o impacto do qual são submetidas.

até mesmo quando a luz se apaga e a dona da noite se apresenta, meus membros são homéricos. minhas pernas suportando outras pernas, se envolvendo com outros pêlos e trocando cheiro e saliva. uma casa de deus baco. minhas pernas com as pernas dele se entrelaçam formando uma rede caótica.

eu não sei mais viver sem as minhas pernas. a turgidez dos seus músculos desenha sob a minha pele a perfeita arquitetura de suas fibras. um emaranhado firme e complexo que de tão rígido, um prego a atravessa, sangra, chora, mas não faz doer. caio no pensamento de acreditar que elas são de concreto. uma armadura de pedra e cimento fantasiada de carne e regada a sangue. gosto dos meus membros. ainda mais por saber que a convergência de cada perna minha me leva ao meu sexo. um prazer, uma ligação entre o meu corpo e algum universo.
eu gosto das minhas pernas.

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