Wednesday, June 09, 2010

palavras limadas


o bom escrever é que consigo expurgar tudo aquilo que me incomoda. uma catarse para dar o próximo passo. a impressão que se apresenta é de uma reciclagem em cada texto concluído, um parto forçado com altas doses de naturalidade.


é paradoxo, é complexo, é corriqueiro. os pensamentos que originam as palavras me incomodam. me saturam de tal forma até o ponto de espremer o meu cérebro para que a última gota saia e assim não fique nem lembrança desse infortunio. independente se as palavras vão para as páginas de um jornal, para um texto à imprensa ou contemplam um desabafo de um sentimento qualquer. o aborto é o mesmo. limo, esfrego, abro a forceps até exaurir a obra completa.


o filho parido e embriagado no sangue é o aval para que outro seja gerado. o alívio de um rebento é o princípio do suor do próximo. na primeira tentativa de suspiro, outros pensamentos se aglomeram em forma de motim para espancar a minha cabeça. outras palavras, outras ideias com outros sentidos. e me restar gerar esse próximo descendente. sem saber a cor, o sexo muito menos o destino, lá vai o menino se criando. são formas e músculos. letras e palavras. é bonito e tão natural.

Thursday, December 11, 2008

amores e temores


Não me poupe das cores, dos amores e dos sabores. Tenho medo de mim mesmo. Consigo explodir em cada esquina que dobro e em todas as ruas que atravesso. São chamas que se espalham por sentimentos indecifráveis. São mais que cheiros, são mais que flores, são verdades contadas em doses de licor esfumaçadas por cigarros.

Sim, posso ter medo. Não sei o percurso desse rio e das velas que te guia. Tenha paciência, pois não a cultivo desde quando a carne começou a sangrar há mais de quatro anos. Saiba me tocar, me beijar e me lamber. As noções de amores e paixões se escoaram por bueiros inóspitos ou se perderam em terrenos baldios, vagando em delinqüências aceitáveis.

Se eu te esqueço, não me condene. Assim, fui feito. Massa, carne e ossos fracos que contemplam apenas a existência sem destino. Denso. Julgue apenas os meus desejos, esses, sim, são fatores que não me extinguem e creditam a força dos meus músculos, dos meus membros e dos caminhos.

Faça girar aquilo que a inércia insiste em permanecer estático. Deixe o sangue pulsar, mas não permita que escorra pelos ladrilhos do banheiro. Construa sonhos em realidades que possam existir e faça acreditar que a estória possa ser mais real e infinita.
Traga os aromas com a mesma fúria de uma fera na caça do antílope em savanas longínquas. E nunca deixe a fome te visitar, saia nos primeiros sinais da aparição dela.

E ao sair, feche a porta. Mas deixe a janela aberta, assim a vista é mais verdadeira. Não esqueça do bilhete relatando o seu destino. A minha consciência pode pesar e ir em sua busca. Quebro os relógios para atestar a fugacidade do tempo. Tão líquido e esquálido e de valor incalculável. Somos assim. Eu sou você. você é eu. Mas juntos, não somos ninguém. Por isso, vá. Siga as placas e veja aonde elas te indicam.

Monday, December 17, 2007

amor

maria eugenia portugal
plantei vida onde encontrava morte para ver as sementes de esperança rasgarem a terra para germinarem aquilo que nunca tive. aquilo que se chama de ilusão, considero missão. interpretando o meu enredo, resignifico a minha vivência. assim me sinto mais completa.

Tuesday, September 11, 2007

a fortaleza e o desconhecido




aprendi a amar, vivendo. ou será que aprendi a viver esmiuçando os segredos de amar? não deixo um minuto da vida sem conviver de mãos dadas com o amor. quando abandono o sentimento em alguma curva de esquina ou dentro de um copo de uísque e gelo, previa que estava morrendo. meus dias eram perdidos em um grande campo de ociosidade. vale à pena amar. gratificante é a honra de quem sabe amar. mesmo que por poucas horas. amor para ser bom não tem a obrigatoriedade de durar.


minha casa se torna um campo de força quando meu amor se manifesta. quadros, pardes, fotos e plantas. um universo particular que me espera para um banho quente e uma conversa despretenciosa no sofá. tudo isso é amar. eu amo a minha casa. cada parte desse espaço foi construído para abrigar o meu amor. agora, eu o espero. essa fortaleza constituída fertiliza a terra para que dela eu possa desfrutar o melhor sentido de amar. mesmo com os canhões apontados para o mar, para certificar a sua robustez, eu amo as fortalezas. segurança e suspiros.


sempre quis amar. e cada dia que passa, amarei muito mais o rosto desconhecido ao guerreiro que me esqueceu nas trincheiras de uma vida conjugal. eu amo o desconhecido. é sobre ele que ergo as bandeiras de um amor profundo. eu amo o desconhecido. mesmo ausente, ele me encara e demarca o seu território. deixo o lado esquerdo da cama para ser ocupado.


- eu te amo, declara ao telefone a moça com a voz tímida ao amante que se encontra em outra cidade. feliz se torna ao saber o desejo de seu par. ela o amando, o torna feliz.


as flores amam. acredito que até as cores se amam pela união perfeita que conseguem fazer. preto com vermelho, azul com branco, amarelo e beje. tudo pode amar. menos as pedras. a inércia não permite a façanha. quando tudo pára, o amor permanece estático. ou seria o contrário? mesmo não sendo capazes de amar, admiro as pedras. quando unidas pela coletividade, formam uma fortaleza. relevo a condição de pedra por que juntas comprovam a existência das fortalezas. eu amo as fortalezas e não posso deixar de amar o desconhecido.

Friday, August 31, 2007

todos os sentidos



o peso das massas frias se dissipam quando o final de setembro se anuncia. a despedida do nono mês traz o frescor de uma época temperada de calor e cor. aposento as mantas e as lãs para me cobrir com a leveza do algodão do amarelo de minha camisa.


a respiração se torna mais rica e acompanha o ritmo da música que atravessa a janela da sala. o som embala a casa que se prepara para mais um dia de expediente, agora mais tranquilo. tudo tão fulgáz que até parece efêmero.


apresentar me ao dia, que já está em atividades desde a manhã mais remota, é uma contemplação que enche a vida e transborda pelos poros. sentir o sol brando, mesmo que amarelo ouro, aos poucos vai colorindo a palidez da pele, abandonando aquilo que foi vestígio de um inverno persitente. alimento a minha existência com cor e água, ingredientes vitais para me dispor ao que está em minha volta.


- bom dia- declara o porteiro de olhos miúdos. perceber o desejo dele é a largda para fazer o mundo girar.


mesmo na clausura da sala vermelha, recebo as guias para que meu dia dê os primeiros passos. escolhi o vermelho para colorir a parede pela pulsação que a cor configura. tudo instiga e alcança aquilo que nunca foi feito em vão.


e depois de cultivar o meu labor, fertilizo os meus espaços para que dele eu possa colher o mais garboso fruto da terra. é do alimento e dos filhos da terra que extraio os meu sustento. e na água morna despejo os segredos de um dia passado a limpo. revelo apenas às espumas e à água um talento frágil da musicalidade. som, suspiros e falsetes.


e limpo desse dia, uma bermuda curta de algodão azul e uma regata branca me aguradam no quarto reformado para compartilhar as horas finais com as palavras e música. reconstituído, espero a chegada de morfeu. simples e singelo, o deus contamina o quarto e me traga pelo sono entorpecente. amanhã, a flor que ainda era um botão, se abrirá. o vento morno pedirá lincença para passar. por que setembro trouxe a primavera.

Friday, August 24, 2007

maria eugênia portugal


abro as cortinas para trazer à tona uma mulher. taurina pela orientação zodiacal, empresto a maria eugênia a minha matéria para se manifestar. rebelde por essência e carinhosa por opção, ela afirma com mais competência aquilo que nunca tive habilidade de descrever.


maria eugênia completa com mais facilidade aquilo que as palavras encontram dificuldade em interpretar. ofereço mãos, pensamentos e alegria para materializar os sentimentos entravados em algum espaço desconhecido.


não culpe a mim pela explosão dela. não cabe a mim julgar o que essa mulher tem a apresentar. aceite e acredite que seu depoimento é a expressão mais verdadeira de si mesma. entenda que ela não existe se não fizer das palavras válvulas de escape da sua fúria. fale baixo. senhoras e senhores, maria eugênia portugal

um leve engano


cheguei a me enfurecer quando vi que não era o meu corpo que seu braço envolvia. eram de outros os fluídos que eram disparados pelo seu corpo. insano e trôpego, recolhi meus pedaços na ladeira a baixo.


para apagar esse cenário, uma noite regada a uísque e pensamentos infortúnios. agradeço a deus por esse luto impositivo. refeito em mágoas, percebo o quão raso eram os seus sentimentos. esquálida e rarefeita era a sua existência ao meu lado.


agora, te entregue. eu te aconselho a rodear as companhias noturnas, mas cuidado para não acordar com o inimigo ao lado. ou peça para algum santo te defender. ao me ver, atravesse a rua, abra um livro, apague a luz. disfarce, ao menos tenha a decência de usar uma máscara que eu não conheça. seja breve e saia. muito obrigado.

Thursday, August 16, 2007

fecunda


deixarei o legado da minha vida com uma outra vida. um porção dos meus pensamentos terão seqüência em uma outra cabeça. o meu ventre brotou. a semente mais terna fecundou a vontade de me tornar mais mulher dentro de mim mesma. o fruto que hospeda o meu ventre traduz as guerras que travamos em noites infindáveis. um entorpecente que carrega saliva e explosão para temperar a receita dos nossos enfrentamentos nas trincheiras.


completei meu corpo com um pedaço do seu corpo. e que hoje, a sua lembrança aloja minha barriga. compacta as minhas vísceras, me deixando redonda. a sua prole é uma planta que rasga o solo fecundo para se apresentar à atmosfera. o que até então se acomoda de forma latente, entra em errupção quando sentir o espaço minúsculo da vida uterina. que se justifica pelo desespero de invadir a minha vida com sorrisos e choros em qualquer hora que o tempo me oferecer.

qual é o valor dessas adversidades? sendo que meus peitos ardem pelo tamanho e fartura para presentear em bandeijas majestosas? eu me resgaurdo ao papel fiel de tirar do meu corpo o sustento daquela que traz metade de mim e metade do meu amor. mesmo contaminada pela fadiga, não me cansarei da tarefa divina de ser mantenedora da minha vida. mesmo tremendo, enrigueço os músculos para enfrentar os tropeços da estrada. a tudo estarei alerta.
em noites mais pacíficas, assobro os seus finos cabelos amarelos. a onda do ar em movimento que atinge os cabelos dela, até parece picadeiro pelo sorriso discreto que estampa a minha boca. de repente, me sinto mais infantil àquele pequeno material humano que descansa sobre o berço. infinito é o que carrego dentro de mim.