minha recompensa
nessa noite eu quero a minha recompensa. a preço de ouro, você irá devolver cada centavo do seu crime ao meu ego. quero ver o vil metal se debruçar um sobre o outro até construir um arranha-céu que os olhos não vão alcançar. o monumento vai se perder nas nuvens e incomodar são pedro. coloque-os em cima da mesa. mesa essa que foi palco da sua anarquia, da sua farra até mesmo do seu descanso quando o álcool lhe impunha o sono, se negando a deitar ao meu lado.
tive que disputar o seu tempo até com uma mesa. esse móvel talvez seja a parte mais marcante da sua vida. era sobre ele que você despejava doses de cólera depois de um dia fatigado. a sua mão pesada agredia com estupidez a face polida da madeira, deixando um rastro de pele e suor que sempre lhe escorria dos braços e da testa. podia se ver a olho nu as marcas da sua mão desenhadas sobre o móvel. sua mão imprimia sobre a mesa um labirinto de linhas e impressões.
as suas cenas não me importam mais. já nem sei que sabor tem. pague me o que me é de direito. conte as moedas que carrega dentro do bolso. esse miúdo dinheiro que foi troco de um maço de cigarro ou de um gole de cachaça em algum boteco miserável. ao menos honre com dinheiro aquilo que a sua frágil palavra nunca honrou. e se hoje não me pagar, apelo para imponência dos juros. vou sugar a sua vida com um canudo de orgulho que em alguma rua deixei afogado em um copo de cerveja. esqueci as suas promessas e a sua sedução. para que assim, pudesse exigir o que me deve. estou com pressa, desembolse as suas economias que com tanta avareza construiu.
se está descapitalizado, vou te dar uma trégua. a última chance de ficar quite com a sua consciência. arque com as despesas do meu coração. essa víscera pulsante que agora está dentro de uma bacia com água e gelo em cima da mesa, uma tentativa de amenizar a temperatura . um enfarte fulminante me dilacerou ao ver o seu corpo se roçando em outro pêlos. pobre diabo. ser ínfimo de qualidade duvidosa. para ocupar meu coração não lhe cobrei aluguel. o seu espírito posseiro invadiu esse músculo vital. com o seu pagamento posso agora pedir que as cartas sejam entregues a outro amores. a outras pessoas que não se alimentam do meu sangue e da minha dúvida.
1 Comments:
Acho q o seu texto tem um sabor...quanto mais se lê, mais se quer saber o q virá...e talvez, descobrir quais os trechos de realidade e quais os de fantasia.
Abração, Hygino.
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