Friday, August 31, 2007

todos os sentidos



o peso das massas frias se dissipam quando o final de setembro se anuncia. a despedida do nono mês traz o frescor de uma época temperada de calor e cor. aposento as mantas e as lãs para me cobrir com a leveza do algodão do amarelo de minha camisa.


a respiração se torna mais rica e acompanha o ritmo da música que atravessa a janela da sala. o som embala a casa que se prepara para mais um dia de expediente, agora mais tranquilo. tudo tão fulgáz que até parece efêmero.


apresentar me ao dia, que já está em atividades desde a manhã mais remota, é uma contemplação que enche a vida e transborda pelos poros. sentir o sol brando, mesmo que amarelo ouro, aos poucos vai colorindo a palidez da pele, abandonando aquilo que foi vestígio de um inverno persitente. alimento a minha existência com cor e água, ingredientes vitais para me dispor ao que está em minha volta.


- bom dia- declara o porteiro de olhos miúdos. perceber o desejo dele é a largda para fazer o mundo girar.


mesmo na clausura da sala vermelha, recebo as guias para que meu dia dê os primeiros passos. escolhi o vermelho para colorir a parede pela pulsação que a cor configura. tudo instiga e alcança aquilo que nunca foi feito em vão.


e depois de cultivar o meu labor, fertilizo os meus espaços para que dele eu possa colher o mais garboso fruto da terra. é do alimento e dos filhos da terra que extraio os meu sustento. e na água morna despejo os segredos de um dia passado a limpo. revelo apenas às espumas e à água um talento frágil da musicalidade. som, suspiros e falsetes.


e limpo desse dia, uma bermuda curta de algodão azul e uma regata branca me aguradam no quarto reformado para compartilhar as horas finais com as palavras e música. reconstituído, espero a chegada de morfeu. simples e singelo, o deus contamina o quarto e me traga pelo sono entorpecente. amanhã, a flor que ainda era um botão, se abrirá. o vento morno pedirá lincença para passar. por que setembro trouxe a primavera.

Friday, August 24, 2007

maria eugênia portugal


abro as cortinas para trazer à tona uma mulher. taurina pela orientação zodiacal, empresto a maria eugênia a minha matéria para se manifestar. rebelde por essência e carinhosa por opção, ela afirma com mais competência aquilo que nunca tive habilidade de descrever.


maria eugênia completa com mais facilidade aquilo que as palavras encontram dificuldade em interpretar. ofereço mãos, pensamentos e alegria para materializar os sentimentos entravados em algum espaço desconhecido.


não culpe a mim pela explosão dela. não cabe a mim julgar o que essa mulher tem a apresentar. aceite e acredite que seu depoimento é a expressão mais verdadeira de si mesma. entenda que ela não existe se não fizer das palavras válvulas de escape da sua fúria. fale baixo. senhoras e senhores, maria eugênia portugal

um leve engano


cheguei a me enfurecer quando vi que não era o meu corpo que seu braço envolvia. eram de outros os fluídos que eram disparados pelo seu corpo. insano e trôpego, recolhi meus pedaços na ladeira a baixo.


para apagar esse cenário, uma noite regada a uísque e pensamentos infortúnios. agradeço a deus por esse luto impositivo. refeito em mágoas, percebo o quão raso eram os seus sentimentos. esquálida e rarefeita era a sua existência ao meu lado.


agora, te entregue. eu te aconselho a rodear as companhias noturnas, mas cuidado para não acordar com o inimigo ao lado. ou peça para algum santo te defender. ao me ver, atravesse a rua, abra um livro, apague a luz. disfarce, ao menos tenha a decência de usar uma máscara que eu não conheça. seja breve e saia. muito obrigado.

Thursday, August 16, 2007

fecunda


deixarei o legado da minha vida com uma outra vida. um porção dos meus pensamentos terão seqüência em uma outra cabeça. o meu ventre brotou. a semente mais terna fecundou a vontade de me tornar mais mulher dentro de mim mesma. o fruto que hospeda o meu ventre traduz as guerras que travamos em noites infindáveis. um entorpecente que carrega saliva e explosão para temperar a receita dos nossos enfrentamentos nas trincheiras.


completei meu corpo com um pedaço do seu corpo. e que hoje, a sua lembrança aloja minha barriga. compacta as minhas vísceras, me deixando redonda. a sua prole é uma planta que rasga o solo fecundo para se apresentar à atmosfera. o que até então se acomoda de forma latente, entra em errupção quando sentir o espaço minúsculo da vida uterina. que se justifica pelo desespero de invadir a minha vida com sorrisos e choros em qualquer hora que o tempo me oferecer.

qual é o valor dessas adversidades? sendo que meus peitos ardem pelo tamanho e fartura para presentear em bandeijas majestosas? eu me resgaurdo ao papel fiel de tirar do meu corpo o sustento daquela que traz metade de mim e metade do meu amor. mesmo contaminada pela fadiga, não me cansarei da tarefa divina de ser mantenedora da minha vida. mesmo tremendo, enrigueço os músculos para enfrentar os tropeços da estrada. a tudo estarei alerta.
em noites mais pacíficas, assobro os seus finos cabelos amarelos. a onda do ar em movimento que atinge os cabelos dela, até parece picadeiro pelo sorriso discreto que estampa a minha boca. de repente, me sinto mais infantil àquele pequeno material humano que descansa sobre o berço. infinito é o que carrego dentro de mim.