Friday, October 13, 2006

o sabor do cheiro




desde criança, aprecio a importância de captar as fragrâncias e sentir pelo olfato a identidade de cada coisa que me circula. perceber o cheiro de um bom perfume que navega pelo ar, as plantas que exalam suas fragrâncias como quem quer demarcar seu território. isso tem um valor mais que simbólico para mim. os odores são dotados de vários dons. é impressionante sentir a doçura do alecrim, a estupidez da hortelã e a suavidade do cheiro das pétalas de rosas. um cheiro aveludado. até acredito que a saudade e a morte são carregadas de cheiro, essa de sândalo e a outra de mofo. a água para mim tem o mesmo cheiro do silêncio.

esse universo me acompanha e preenche meus dias; o olfato enriquece a minha convivência comigo mesmo e com as pessoas, oferecendo um sentido a mais. Ao olfato, também empenho o meu respeito pela sua agressividade. a sua manifestação é rebelde, impõe a sua presença mesmo quando não lhe é permitida. todos os narizes são obrigados a sentir a sua atividade. não tem como se manter indiferente quando a chuva penetra a terra seca apresentando o aroma do mato. um cheiro quente de terra molhada que se prepara para fecundar.

gosto de sentir fragrâncias para me transformar em outras pessoas e fazer outras atmosferas que não seja a realidade. brincar de faz-de-conta com a minha condição. o cheiro para mim não é apenas uma fragrância que explora o nariz e estimula o cérebro com descargas sensoriais. é composto por cor, sabor e até mesmo alma, uma estrutura sinestésica impressionante.

não tem como sentir o preparo de biscoitos de nata na padaria e não recordar da minha mãe e da minha infância. essa ocasião me traz à pele a sensação de aconchego de uma mãe-fêmea. um semblante materno para alimentar a sua cria. sinto uma fortaleza quando esse aroma atravessa o meu dia. assino o passaporte que me remete à uma tarde de sábado que foi usada para sovar a massa fermentada que trouxe à tona uma baciada daquelas bolachinhas brancas tão saborosas. no mundo gastronômico, eu me lembro também dos almoço de domingo. a fartura que rodeava a mesa. bem antes dos ponteiros anunciar meio-dia, o aroma de carne assada já se ramificava por toda a casa. o cheiro da comida vem carregado de alegria e descontração, com o sabor da preguiça de satisfação.

não é de se impressionar que cleópatra se deliciava com seus banhos aromáticos. o hábito de se lavar deixava de ser privativo para ganhar o conhecimento público. a sedução da rainha do egito se explica pela fragrância que seus poros oferecia à alta dinastia dos homens da idade antiga? é muito agradável sentir o cheiro de um creme novo, um perfume diferente até então desconhecido. acredito que tudo isso seja um processo mágico. reservar alguns minutos para lambuzar o corpo com um creme e com as mãos fazer um trânsito que inspira uma sensação prazerosa. e com isso dar o aval para que aquele cheiro lhe acompanhe pelo cotidiano, assim como um braço, uma perna e o coração. esse cheiro passa a ser um pedaço da personalidade de quem o usa, assinalando a sua identidade.

Tuesday, October 03, 2006

BELO
























































































































































































































































































































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