Wednesday, November 29, 2006

com as suas mãos




tenha a mim por completo. não tem nada que por minha passagem pela terra não fosse seu, depois que meu o fosse. um composto de matéria compactado em carne e osso para lhe apresentar em noites quentes. E para quando quiser uma conversa, eu serei uma companhia munido com uma garrafa de champanhe em baixa temperatura.

sem medir princípios ou moral, a carapuça social que trajava foi se desfazendo e tomando consistência de geléia. meus músculos foram se descomprimindo e latejavam pela histeria que atravessava a mente e o corpo. cada fibra lacerava com a persistência do seu suor.

conheci cada célula da sua matéria. experimentei o sal da sua carne e fiz dela um banquete exclusivo para a minha vontade. sua saliva evaporava quando caia sobre a minha pele quente. na sua presença perdi a decência. na sua companhia, trafego por campos despudorados onde sou contemplado com flores e fluídos. desde agora, ando de mãos dadas com o desejo dos meus órgãos.

esfrego, lambo e dou cor aos meus sentidos. ofereço os meus membros para o seu culto. é um conjunto colossal designado com nome de imperador, dono de espadas que foram cúmplices do seu impulso. dessa guerrilha fui testemunha, nos ambientes de trincheiras me servi de soldado para rasgar a carne e dar vazão ao meu sangue. senti na pele a sua pele, senti o seu sangue no meu coração.

mesmo assim, se encontra longe. dentro de uma bolha escaldante e gris, onde falta cor e vibração. está cercado por pedras e pela fumaça pesada que traga pelo nariz. uma metrópole desvairada. não lutei contra o que parecia ser um jogo de lógica. deixei que fosse embora para seguir o que julgava ser correto, mesmo acreditando que o mais justo era que fosse minha costela. foi embora, mas te sigo pelo caminho que marcou pela estrada, serei guiado pelo rastro de cheiro que ofereceu à atmosfera, fragrância que veio do seu corpo, do seu sêmen, da sua alma.

nessa brincadeira insana tenho o tempo como aliado, peço a cronos que sobrecarregue os relógios. em breve me virá atravessando a porta da sua casa munido de roupas e esperança. serei a sua família. esquentarei a água do seu banho e darei ao seu olfato o perfume que roubei da alfazema para encantar as minhas entranhas e servirei de porto para o seu aconchego. não fuja, estou a caminho.